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Proteger o sigilo no universo da inteligência artificial
27 Outubro 2025
ipai5
Paula Franco esteve presente na Conferência Anual de Auditoria Interna 2025


«Responsabilidade», «ética» e «sigilo». É em torno destes três conceitos que girará, e muito, a relação dos contabilistas certificados com a inteligência artificial (IA). Esta foi a visão defendida por Paula Franco, no decurso da sua intervenção no primeiro painel da Conferência Anual de Auditoria Interna 2025 (CAI2025), organizada pelo Instituto Português de Auditoria Interna (IPAI), cujo tema genérico se assemelha mais a fórmula matemática «CTRL + AI² + DEL» e que decorre, a 27 e 28 de outubro, no Auditório António Domingues de Azevedo, em Lisboa.


Em resposta à primeira interpelação de Nélia Lopes, presidente do Conselho Fiscal do IPAI e moderadora, sobre o papel da IA na preparação dos novos profissionais, a bastonária da OCC relembrou que aquela ferramenta «veio para ficar. Temos é que saber lidar com ela.» E assim sendo, continuou Paula Franco, «nós nunca poderemos perder a massa crítica, nunca poderemos abdicar do conhecimento.»


É aqui que entram a responsabilidade, a ética e o sigilo. A primeira, porque será necessário delimitar bem o seu âmbito; a segunda porque «será sempre uma questão central e transversal a todas as profissões»; e o terceiro porque «a nossa profissão obriga-nos a que tenhamos grande cuidado com as ferramentas que estão ao nosso dispor. O contabilista certificado tem acesso a informação muito sensível da vida das empresas e tem de saber muito bem onde coloca essa informação. Porque, como todos sabemos, se essa informação cair no domínio público, uma vez partilhada, não há nada a fazer.» 


Nesse sentido, Paula Franco - que acredita que a «IA irá proporcionar uma grande alavancagem na profissão», bem como «uma poupança de tempo nas tarefas mais rotineiras e repetitivas» - revelou que a Ordem está a «desenvolver um manual de procedimentos para tentar acautelar aquelas três grandes preocupações» sendo que, fez questão de frisar, «o sigilo é, sem dúvida, muitíssimo importante e o que mais nos preocupa nesta altura. É um fator que deve merecer por parte dos contabilistas certificados muito cuidado.» 

 

A importância de manter a «massa crítica»

 

Num painel que contou também com a presença de Virgílio Macedo, bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, e que teve como tema o «Novo paradigma profissional e novos desafios da inteligência artificial», a bastonária da OCC defendeu que os mais jovens «devem manter as competências que têm, porque é muito importante não perdermos a massa crítica. O conhecimento, o estudo, o “como fazer” nunca se podem perder. Só desta forma é que manteremos a capacidade de avaliar e analisar.»


Neste mundo novo que diariamente se vai erguendo, a bastonária anotou ainda ser essencial «saber perguntar à IA e não apenas saber responder», enquanto alertava para a necessidade de «saber confirmar as fontes porque, apesar de querermos explorar ao máximo as potencialidades da IA, no final do dia, a responsabilidade será nossa, será sempre do contabilista certificado.»


Em resposta à questão relativa à atratividade da profissão para os mais novos, Paula Franco foi taxativa: «Costumo dizer que os jovens estão a chegar à profissão na altura certa, porque as tarefas mais repetitivas estão, gradualmente, a ser eliminadas. Teremos uma profissão mais atrativa e a prova disso é que, nos últimos dois anos, tivemos mais candidatos do que nos últimos dez.»


Porque de presente, mas sobretudo de futuro, se falou, Paula Franco, instada a olhar para a profissão daqui a 10 anos, defendeu ainda que «será mais leve em termos de tarefas repetitivas», mas, vincou, «seremos sempre uma profissão de rigor e de conhecimento.» Por outras palavras, há linhas definidoras que as mudanças, venham de onde vierem, nunca poderão (ou deverão) ultrapassar.