Entrevista
Entrevista a Paula Franco, bastonária da OCC
12 Dezembro 2025
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«Um sistema centralizador de documentos tiraria muito peso administrativo às empresas, aos contabilistas e ao próprio Estado»



Em entrevista ao podcast «E se corre bem?», Paula Franco faz uma viagem pelo seu percurso profissional e de vida, revelando algumas facetas pessoais menos conhecidas.  A bastonária anuncia como grande desafio para 2026 o contabilista 3.0, visando inaugurar, no âmbito da reforma do Estado, uma nova relação dos contabilistas certificados, as empresas e os empresários.


Como é que uma pessoa vai para contabilista?
Paula Franco - Em primeiro lugar, deixe-me referir que, ao contrário do que muitas pessoas acham, ser contabilista é uma profissão fascinante.

Fascinante?
Claro. O facto de ser uma profissão complexa, que exige rigor, ética, pressão e muita análise documental, leva a que, erradamente, esteja associada a um certo cinzentismo. Nós escrevemos todos os dias a história das empresas. Já viu a importância de registar tudo o que reflete a posição financeira das empresas? Ao reunir os dados referentes às empresas estamos a transmitir um manancial de informação para a tomada de decisão. Ter a informação financeira é um poder. 

Como é que nasce este seu «bichinho» pela contabilidade?
Foi desde jovem e não teve qualquer influência familiar. O meu curso é de Gestão, mas sempre me fascinou a área da contabilidade. Aliás, antigamente, no 10.º, 11.º e 12.º anos, já existiam várias disciplinas muito vocacionadas. Eu fui para a área de economia e no meu tempo tínhamos contabilidade pura.

E era boa aluna nessas disciplinas?
Nessas disciplinas era muito boa aluna, e também porque gostava. Foi esse o momento em que me deu o clique.

Nunca colocou outra opção?
Não. Nem sequer fiz testes psicotécnicos. Sabia exatamente aquilo que queria.

Termina o curso e decide abrir, por conta própria, um espaço de contabilidade…
Isso já foi mais tarde. Antes fui para a consultadoria, inclusive na própria Ordem, com especial enfoque na parte fiscal. A fiscalidade, à semelhança da contabilidade, também é uma paixão. Tomar as melhores decisões, escolher os melhores caminhos e as melhores opções no contorno das operações societárias é algo que faz a diferença. As melhores decisões vindas de um profissional bem qualificado fazem a diferença no crescimento e alavancagem das empresas. Mas, ao fim de um tempo senti, que não conseguia crescer mais sem escrever, diariamente, a história das empresas.

Trabalhar para outro é diferente de ser a própria a escolher o seu destino? Sentiu esse impulso?
De alguma forma, sim. Mas senti, acima de tudo, a necessidade de ir mais além no conhecimento, fazendo a diferença na tomada de decisão com a informação financeira produzida. Trabalhava em consultadoria, aconselhava outros contabilistas certificados, mas não tinha, como popularmente se diz, «as mãos na massa».  E foi há 18 anos que avancei e abri o escritório de contabilidade, mantendo a consultadoria.

Mas não vemos CEO contabilistas. Porquê?
Vemos muito CEO contabilistas. O que acontece é que, nesse patamar, não se identificam enquanto tal. Um CEO contabilista controla, conhece e sabe tomar as decisões com base na informação financeira. Veja a importância que tem eu, enquanto profissional, gerir a própria Ordem que lidero. Por vezes, falo com outros bastonários e sinto que eles têm essa dificuldade precisamente por não serem contabilistas.

Mas não há um choque com o CFO?
Não. O CEO não exerce a função de contabilista certificado. Até porque nem pode, é incompatível. Tem a base da informação, tem o conhecimento, mas depois está na área da gestão. O que acontece é que o background que tem lhe permite tomar melhores decisões.

Neste seu percurso, mais tarde, acabou por concorrer à liderança da Ordem. Sentiu vontade de ir mais longe na sua profissão?
Os contabilistas certificados nunca foram muito reconhecidos. São considerados quase técnicos de segunda. E sempre achei que isto levou a que muitas empresas não tenham tido o desenvolvimento adequado.  A valorização do profissional e do seu papel, precisamente na elaboração das demonstrações financeiras e em contribuir com mais informação para a tomada de decisões, é fundamental. Elevar os contabilistas certificados para um outro patamar foi a principal razão que esteve na base da minha candidatura a bastonária. A informação financeira é tudo para as empresas, e a sociedade tem de reconhecer este valor. O contabilista certificado é o profissional mais importante da área das ciências económicas.

Essa é uma ideia que tem dito, frequentemente…
Repare que todas as áreas das ciências económicas, sejam as certificações legais de contas feitas pelos ROC, a análise de risco pelos bancos, as seguradoras e a própria AT ao nível da receita, tudo se baseia numa informação que é elaborada, tratada e produzida pelo contabilista certificado. Por isso, se não existirem profissionais qualificados a produzirem esta informação, na base, toda a análise que se segue fica enviesada.

E nesse esforço de valorização, está a considerar o estatuto ou também o vencimento?
É tudo junto. Os vencimentos do contabilista certificado são completamente diferentes do que eram no passado. Subiram bastante, principalmente nos que estão inseridos numa empresa.

Há carência de contabilistas certificados no país?
Sim. Os escritórios de contabilidade têm uma dificuldade enorme em contratar. Nas áreas das ciências económicas temos muita procura e uma situação de pleno emprego.

A dificuldade de recrutar tem contribuído para elevar os vencimentos?
Sim. Um contabilista interno numa empresa é hoje muito valorizado. O que acontece é que as empresas que não conseguem ter profissionais nos seus quadros recorrem muito ao outsourcing. 

Como é que reage a certas vozes que criticam que um contabilista trabalhe em diferentes empresas, nomeadamente com implicações em termos concorrenciais que isso pode ter? 
É uma questão de gestão. O outsourcing na contabilidade é uma realidade porque temos um tecido empresarial composto por muitas micro e pequenas empresas, que não têm a capacidade de possuir um profissional permanentemente. Do ponto de vista concorrencial e de sigilo temos um código de ética que enquadra o exercício da profissão. O facto de acompanhar várias empresas não lhe retira a isenção e a separação total entre as empresas. Entre o empresário e o contabilista é preciso que exista uma confiança total entre as partes. Caso não exista, a relação dificilmente resultará.

É quase um confidente?
Sim, um confidente em tudo. O contabilista certificado sabe tudo da vida do seu empresário, e muitas vezes entra no campo das finanças pessoais e da própria vida pessoal. Toda a empresa tem de estar espelhada no trabalho destes profissionais.

Num mundo em que existe, cada vez mais, dúvida e desconfiança, o contabilista pode ser visto como um portador da verdade?
Sem dúvida. Trata-se de um profissional de interesse público e que prima pela isenção. Esta profissão é considerada de interesse público por estar a salvaguardar o interesse do país em termos gerais. É, também, de fé pública, pelo facto de o seu trabalho dar confiança a todos.

E porque é que existe uma Ordem dos Contabilistas Certificados?
Precisamente para ter um código de ética e um código deontológico que regulam uma profissão e, sobretudo, para trazer o cariz de interesse público ao profissional, que tem de ser isento, independente e defender o que está na lei. E é a ordem profissional que regula o exercício profissional e vai atender às queixas que surjam visando os profissionais.

Da perceção que tenho, considero que esta é uma das ordens mais dinâmicas, considerando todo o associativismo. É uma forma de demonstrar que os contabilistas fazem mais do que contas? 
Contar a história das empresas é fascinante, mas obriga a muitos desafios. A fiscalidade está longe de ser linear, há muita legislação de suporte, a relação entre as empresas e a AT, etc. É neste contexto que a Ordem tem de promover um trabalho de apoio aos seus membros para garantir que o contabilista está sempre a tomar as melhores decisões. Para isso, é preciso estudar, reciclar conhecimento e frequentar a formação obrigatória que disponibilizamos. Todos os dias há mudanças que têm de ser aplicados de imediato.

Essas mudanças nas obrigações, ao nível do trabalho dos contabilistas, não deviam ser suavizadas?
Seria ótimo, não só ao nível dos contabilistas, mas também nas mudanças que afetam as empresas. Por exemplo, a falta de estabilidade fiscal e a morosidade no sistema judicial pesam negativamente na competitividade do país. É muito difícil explicar certas coisas a cidadãos estrangeiros que investem ou desejam investir em Portugal. Confrontados com a complexidade existente, há muitos que desistem logo à partida.

A Ordem tem feito pressão para mudar este estado de coisas junto das entidades que decidem?
Sim, isso tem de acontecer sempre que o interesse maior da organização que lideramos for o interesse do país. Quando é preciso, urge identificar o que está mal e apontar o que pode ser feito melhor. Se melhorarmos, estamos a melhorar o país. Isto para além do papel que temos tido na sociedade em interpretar e a levar informação, tanto para os contabilistas certificados como para a população de uma forma geral. Não tenho dúvidas em afirmar que a OCC, hoje em dia, é identificada como a entidade mais idónea para a interpretação das normas fiscais, isto para além de ser ouvida sempre que há alguma alteração/medida legislativa ou, por exemplo, quando é apresentado o Orçamento do Estado. É o trabalho de antecipação que privilegiamos e que nos confere a credibilidade na análise destas matérias. A primeira coisa que faço todos os dias é ler o «Diário da República». Ainda tenho esse «bichinho» de estar sempre atualizada e só as notícias da comunicação social não chegam.

Com a generalização da digitalização, os profissionais já estão rodeados de menos papel?
Há uma evolução enorme nesse campo. Muitos contabilistas já não trabalham com papel, e para isso muito terá contribuído o facto de, em 2020, no ano da pandemia, ter sido permitido a contabilidade exclusivamente em suporte digital. Costumo dizer à nova geração de contabilistas que entram na profissão numa altura ideal, em que as tarefas redutoras e repetitivas são feitas pelas máquinas, o que permite que nos foquemos na análise e coloquemos o nosso conhecimento ao serviço da sociedade.
 


A inteligência artificial (IA) é um tema que está sempre a ser trazido à liça. Teme que as máquinas venham a substituir os contabilistas?
Não. Vão é contribuir para que eles se posicionem num patamar diferente, reinventando a forma como exercem a profissão. A IA vai permitir que sejam aprimoradas as competências dos profissionais. O ano de 2025 tem sido marcado por uma generalização gradual do uso de IA e os contabilistas certificados não escapam a essa tendência.

Encontra diferenças na abordagem às novas tecnologias que é feita pelos contabilistas mais experientes e os que agora são admitidos na profissão?
Sem dúvida. A maior parte dos jovens contabilistas já tem uma capacidade e uma apetência muito particulares para lidar com estas ferramentas o que, desde logo, lhes vai facilitar a vida.

É sabido que os contabilistas têm uma vida demasiado intensa. Sente que a evolução tecnológica vai permitir reequilibrar a vida pessoal e profissional?
Sinto. Esse é um ponto muito negativo da vida dos contabilistas. Muitos dos profissionais queixam-se, de forma recorrente, de não ter vida. O problema é que as empresas estão assoberbadas de obrigações. Qualquer organismo, em particular do Estado, exige demasiada informação e em particular às empresas de menor dimensão, sendo o contabilista que domina e se encarrega de todas estas solicitações quando, na verdade, devíamos era estar preocupados em acrescentar valor, que é o nosso principal know-how.

Como é que olha para a necessidade de termos uma reforma do Estado?
Há anos que se fala de simplificação e, sinceramente, sempre que ouvimos falar disto ficamos assustados. Por norma, a simplificação é sinónimo de maior complexidade. Estou muito expectante relativamente ao ministro da Reforma do Estado, o qual espero que tenha a coragem de simplificar verdadeiramente processos. E no domínio da relação entre contabilistas e empresas, há imenso a fazer, nomeadamente no que ao uso das tecnologias diz respeito. Os organismos públicos querem cada vez mais informação e o que devem fazer é ter o foco nas empresas e no que elas podem dar para a economia. É necessário um verdadeiro compromisso pela simplificação, descomplicando e ouvindo as empresas.

Mas o Estado continua a solicitar documentos que já estão na sua posse…
Sim, e as entidades públicas, frequentemente, não partilham documentos entre si. A centralização e a partilha dessa documentação é uma necessidade que todos temos.

Anunciou recentemente a ideia de criar o contabilista 3.0. No que é que se traduz?
É um projeto que queremos trabalhar ativamente em 2026. Como referi há pouco, os contabilistas estão absorvidos por tantas obrigações que não conseguem cumprir tarefas essenciais de forma atempada, como seria desejável para a maioria das empresas, em particular as micro e pequenas. Já as empresas de maior dimensão têm recursos e departamentos especializados, o que lhes permite ter a informação mais atempada. A economia só cresce se, efetivamente, a informação financeira for muito mais além e servir os interesses da empresa. Com as tecnologias, e em particular com a IA, estou convicta que teremos condições para ir mais além. É neste contexto que o contabilista 3.0 tem de se libertar de tudo o que é redutor, na sua relação com a empresa e o empresário, e focar-se naquilo que é verdadeiramente importante. É um passo que tem de ser dado e que acreditamos possa ser integrado no âmbito da reforma do Estado.

Pode dar algum exemplo concreto de uma tarefa que nada acrescenta ao trabalho dos profissionais?
Por exemplo, andar atrás dos documentos. Cerca de 20 a 30 por cento do tempo do profissional é gasto a andar atrás de documentos. Provavelmente já passou por essa experiência, em que o seu contabilista anda à sua procura a pedir uma fatura em falta. Em nome do rigor, estes dados têm de ser tratados. O somatório dos documentos é que traduz a expressão financeira. Não pode falhar. Mas esta tarefa é redutora, para além de consumir recursos e tempo, gerando igualmente uma fricção e um desgaste desnecessário entre contabilista e empresário.

Como é que se acaba com isto?
O projeto que nós temos é um processo centralizador de documentos, com zero papel, em que existe uma entidade – completamente autónoma e que não faça uso destes dados - que agrega todos os documentos das empresas. Necessariamente com garantias de encriptação para que os dados não vão parar a mãos erradas, sob pena de quebrarmos o que é o segredo dos negócios. Para além disso, tem de existir uma central de consentimento onde o empresário terá de autorizar o acesso a esses dados. Passa-se uma fatura, faz-se uma escritura e os documentos ficam automaticamente centralizados. Este sistema tiraria muito peso administrativo às empresas, aos contabilistas e ao próprio Estado.


O equilíbrio da vida pessoal e profissional é um tema muito atual e que as novas gerações reclamam na admissão a um trabalho. A profissão de contabilista não foge a esta tendência?
Sim. Esta é uma das profissões que sacrificou muita da sua qualidade de vida ao serviço da economia e do Estado. As funções que o Estado exige às empresas só têm sido cumpridas porque há um contabilista a fazê-las. E neste caminho de obrigações a qualidade de vida foi-se perdendo.

Nos frequentes momentos de interação que tem com os contabilistas este é um tema que é muito abordado?
Chegam-me muitos desabafos e também a partilha de muitos problemas. Assiste-se a um reposicionamento na profissão, em que as mulheres já são a maioria, mas ainda são poucas em cargos de responsabilidade, comparativamente com os homens.

Sentiu alguma vez o peso de ser mulher num mundo de homens?
Na contabilidade não, mas em termos gerais, sente-se, às vezes. Quando há alguma coisa que corre menos bem, admito que existe a tendência para penalizar mais as mulheres. Outro aspeto que destacaria é que as mulheres, porventura devido à gestão familiar, dedicam-se menos a causas. É muito difícil atrair mulheres para o associativismo. Tenho procurado puxar mais mulheres para a Ordem, mas ainda se nota a dificuldade de dedicação a um desafio permanente, cedendo o tempo familiar às organizações.

O contabilista que é hoje admitido na Ordem é diferente do contabilista que entrava há 20 anos?
Completamente diferente. Mais tecnológicos, mais exigentes, mas, eventualmente, menos aptos para lidar com a pressão. A exigência do teletrabalho trouxe maior equilíbrio à vida pessoal e profissional. Mas também existe o reverso da medalha: as equipas de trabalho ficam desligadas fisicamente e não desenvolvem tanto a cultura empresarial. No caso dos jovens que entram no mercado de trabalho, não concordo que fiquem em teletrabalho absoluto, visto que neste sistema não conseguirão apreender a cultura da empresa, o diálogo, a cedência, etc. Isto para além do défice de socialização associado. Só estando com as equipas é que surgem as necessidades. Penso que o ponto de equilíbrio será o recurso ao trabalho híbrido.

Se não tem sido contabilista, o que é que teria seguido?
Gosto muito das áreas de decoração e de pintar. São ambos domínios que também me fascinam, mas só me vejo como contabilista. A tomada de decisões e o produzir informação financeira é algo desafiante e que me fascina.

Um elevado número de pessoas candidataram-se à Ordem. A que se deve esse efeito?
Os estatutos das ordens foram revistos. Um dos objetivos que presidiu a estas alterações foi não criar entraves ao exame e a OCC levou isso ao seu extremo, aproveitando a oportunidade, mantendo o rigor. Foi um sucesso enorme. De repente, tivemos 10 mil candidatos em dois anos, quando anteriormente, em média, por ano, não chegava a um milhar. E para além de pessoas sem qualquer experiência, também tivemos pessoas com muita experiência, que não têm estágio curricular, e têm os cursos de Economia e Gestão, casos de CFO, CEO e diretores-gerais, que fizeram o curso de preparação (a chamada terceira opção) de 4/5 meses e que depois se submeteram a exame. É uma espécie de reciclagem ou upgrade no âmbito de conhecimento empresarial, na dimensão contabilística e fiscal. Numa altura em que o mundo inteiro está a braços com a dificuldade de reter talento, diria que esta iniciativa é um verdadeiro case study. Esta é, provavelmente, a profissão que mais responsabilidade tem no país. Inclusive mais do que um médico.

Do que um médico?
É verdade. Estamos a falar de aspetos financeiros e qualquer erro é o contabilista que tem de o assumir. Existe essa pressão, visto que a responsabilidade, do ponto de vista moral e legal, é dele.

Saio daqui quase convencido que a contabilidade é uma profissão sexy...
Sem dúvida que é. O conhecimento do contabilista é ímpar e invejável, ainda para mais numa área tão complexa e que a maior parte dos cidadãos não quer ter nada a ver. Antigamente toda a gente gostaria de ter na família um médico, atualmente toda a gente quer ter na família um contabilista. Veja que na parte da análise é preciso interpretar os números, tomar decisões e definir o rumo. Qualquer gestor e qualquer pessoa na sua vida privada gostaria de saber tomar estas escolhas, do ponto fiscal e financeiro. O exemplo da entrega anual do IRS é apenas um exemplo que diz respeito a todos.

Está há praticamente oito anos na liderança da OCC. Sente hoje a profissão mais valorizada?
Sinto. Essa perceção é generalizada e é preciso dizer que foi a pandemia que lhe trouxe essa relevância. Dar a perceber à sociedade a importância do profissional foi o grande mote que esteve na base da minha candidatura. Conseguiu-se desmistificar a componente técnica associada à profissão e emergiu o seu carácter essencial para o funcionamento da sociedade. Manter o legado deixado pelo anterior bastonário, melhorá-lo e levar a profissão mais além, foram os objetivos a que me propus. Fazendo a retrospetiva destes quase oito anos, posso afirmar que conseguimos o objetivo proposto. Conquistas como o justo impedimento e as férias fiscais ou o afastamento das coimas, foram avanços da mais elementar justiça. Dos projetos iniciais que nos propusemos cumprir, falta apenas o do contabilista certificado público. É fundamental ter um profissional a assinar na esfera pública, garantindo a independência das contas públicas. Uma boa informação financeira junto dos organismos públicos é fundamental. É mais um objetivo para servir o país. 

Entrevista Diogo Agostinho | Fotos Hugo Amaral (Podcast «E Se Corre bem?»)
Publicada na Revista Contabilista 307

PERFIL

Paula Franco nasceu a 29 de setembro de 1969, em Lisboa. Contabilista certificada, empresária, consultora fiscal e formadora, foi colaboradora do departamento técnico e, posteriormente, assessora dos dois últimos bastonários da OCC, Domingues de Azevedo e Filomena Moreira, prestando apoio técnico aos membros no domínio da fiscalidade, contabilidade e Segurança Social. Como empresária, dirige o seu escritório de contabilidade há mais de duas décadas, com uma sólida carteira de clientes. A 5 de março de 2018 tornou-se o terceiro bastonário da história da Ordem dos Contabilistas Certificados. Em 18 de novembro de 2021 foi reeleita bastonária para o mandato 2022-2025 com a maior percentagem de sempre (88,7 por cento).Em 2024, fruto das alterações estatutárias, foi reconduzida no cargo para o mandato que termina em 2028. Como membro de grupos de especialistas de organizações internacionais como a EFAA e o CILEA, - nesta última organização detém uma das vice-presidências – importou as melhores práticas e contributos internacionais para a profissão em Portugal. Foi presidente da União de Contabilistas e Auditores de Língua Portuguesa (UCALP), entre setembro de 2019 e fevereiro de 2025.