Notícias
O lado social da sustentabilidade
Slavery1
As novas formas de escravidão em debate na conferência organizada pela Comissão de História da Contabilidade


«Accounting and slavery in the modern world» foi o tema proposto para a conferência organizada a 9 de maio, no auditório da Ordem, no Porto, pela Comissão de História da Contabilidade da Ordem dos Contabilistas Certificados. Uma temática da sustentabilidade social que trouxe até Portugal Giulia Leoni e Aziz Islam, respetivamente docentes na Universidade de Génova e na Universidade de Aberdeen. A outra oradora foi Ofélia Pinto, professora da Universidade Lusíada.

As formas de escravidão no mundo moderno, ao nível laboral e da dependência das tecnologias e dos meios digitais, foram algumas das múltiplas abordagens trazidas até ao auditório do Largo Primeiro de Dezembro, na cidade «invicta». E perante este contexto que papel compete ao contabilista certificado e à contabilidade? «Os profissionais podem fazer a diferença através do relato de sustentabilidade. O relato e a informação são, na verdade, tudo para a tomada de decisões. O que falta é mesmo atribuir a responsabilidade do relato não financeiro a estes profissionais, rigorosos, independentes e sob um estreito código de ética», defendeu Paula Franco. Em suma, se este passo for dado, «acredito que o contabilista certificado pode, verdadeiramente, salvar o mundo.» 

Por seu turno, Carlos Menezes, presidente da Comissão de História da Contabilidade, salientou o papel que o contabilista pode desempenhar no «combate aos riscos reais de exploração», mesmo tendo Portugal uma legislação robusta.

No painel principal Ofélia Pinto abordou aquilo que denominou por «lado negro da contabilidade», em particular o caso da Companhia Geral do Grão-Pará e do Maranhão, no século XVIII, em Portugal. «Uma empresa que era uma grande máquina alimentada por informação contabilística», referiu.

De Itália viajou a investigadora da Universidade de Génova. Giulia Leoni referiu que «as fontes digitais podem auxiliar na compreensão do fenómeno da escravatura, numa perspetiva histórica ou moderna.»

Com raízes no Bangladesh, mas atualmente a lecionar na Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, Aziz Islam debruçou-se sobre a responsabilidade dos contabilistas no combate à escravatura moderna. Para o investigador a «auditoria atual falha em refletir a escravatura moderna». Aziz Islam partilhou ainda que «é a globalização que dá forma à escravatura moderna», com a mudança do sistema de produção para o sul global e a relocalização das multinacionais na Índia, na China ou no seu Bangladesh natal. Com custos de mão de obra muito reduzidos, tendo em vista a maximização do lucro, tal como faziam os traficantes de escravos no passado.