Capacidades transversais
O penúltimo painel da jornada esteve subordinado ao tema «Reforço de capacidades e cooperação regional.» O grego Panagiotis Alamanos, responsável do IFAC para as organizações contabilísticas internacionais, aconselhou que estas entidades promovam «estratégias resilientes centradas nos membros e que sejam capazes de moldar o futuro da profissão.» Da ilha Mediterrânica de Malta viajou Maria Cauchi Delia. A CEO do Institute of Accountants, sediado em La Valeta, apresentou a entidade que lidera e que é constituída por 4500 membros. «Relevância e sustentabilidade», são objetivos que sustentam toda a sua estratégia. «Os profissionais devem ter, cada vez mais, capacidades transversais. E para mudar a imagem da profissão, nomeadamente ao nível do aconselhamento de carreira, estamos a desenvolver um programa de sensibilização nas escolas, nas universidades, junto dos reguladores e outras autoridades oficiais», sintetizou a dirigente maltesa.
Sami Soumri, secretário-geral da Ordem dos Contabilistas da Tunísia (OCT), dissertou sobre as oportunidades para a cooperação profissional e também sobre a formação no seu país. «Só com partilha, cooperação e conjugação de esforços podemos avançar de forma célere. Nenhum organismo profissional pode progredir isoladamente», disse Soumri, que fazendo um «apelo à ação», sugeriu ainda a criação do Observatório do Mediterrâneo para a Formação em Contabilidade. Perante a emergência de novos riscos, o dirigente do Norte de África identificou o contabilista certificado como «o garante da informação financeira e da estabilidade económica dos países.»
Caitriona Allis é a head of Europe da Association of Chartered Certified Accountants (ACCA), uma entidade global, que agrega 250 mil membros e que é fiel ao mote «pessoas fortes e instituições fortes criam uma profissão forte.» A irlandesa, após ter reiterado o compromisso com o interesse público, identificou como principais tendências, «a alteração dos standards, a competitividade pela atração de talento e a transformação digital.»
A moderação do painel esteve a cargo de Nazmi Plana, Society of Certified Accountants and Auditors of Kosovo (SCAAK), que enfatizou a «cooperação regional» como a pedra angular da dinâmica da FCM.
Um pacto que é um sinal de «esperança»
O Pacto para o Mediterrâneo é uma nova iniciativa da UE, apresentada a 16 de outubro deste ano, que pretende renovar e aprofundar as relações do «velho» continente com os países do sul do Mediterrâneo. Trata-se de uma estratégia ambiciosa para criar um “Espaço Mediterrânico Comum” — ou seja, um quadro de cooperação mais integrado entre os países do Norte e do Sul do Mediterrâneo. Contudo, este compromisso vai muito para além de um mero documento, traduzindo-se num conjunto de intenções e políticas que deverão concretizar-se em projetos objetivos, incluindo a cooperação económica, social, energética, educativa, ambiental e em matéria de migrações.
Foi precisamente este o tema do último painel da conferência OCC/FCM e que teve como convidada especial, sob a forma de mensagem gravada, a comissária da UE para o Mediterrâneo, Dubravka Suica. O pacto, que será formalmente assinado a 28 de novembro, em Barcelona, assenta em três pilares: uma centralidade assente nas pessoas, as competências ao nível das oportunidades de emprego e um espaço comum para partilhas profissionais e, finalmente, tirar o melhor partido das economias, fortalecendo as cadeias de produção e distribuição. «Melhorar a conetividade global, promover emprego de qualidade e aproveitar o provável efeito “spill over”», foram objetivos elencados pela comissária croata, contando para isso com as melhores práticas profissionais desenvolvidas pelos contabilistas certificados dos países mediterrânicos.
Nelson Ferreira encerrou o painel considerando que o Pacto para a região é um sinal de «esperança», adiantando que o projeto da Universidade do Mediterrâneo poderá ser de grande utilidade para a formação específica dos profissionais da contabilidade e da fiscalidade.
Sofia Baião Horta declarou que o pacto para o Mediterrâneo vai permitir uma «prosperidade partilhada» e que a comunidade empresarial deve estar intimamente ligada a este compromisso. Para a responsável da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) para a área das relações internacionais, a «dimensão e a voz mediterrânica» devem ser reconhecidas na agenda política mais ampla da UE. A jurista lembrou ainda que Portugal assumirá, em 2027, a presidência da MED-9. Criada em 2013, a aliança dos MED9 junta nove países – Portugal, Croácia, Chipre, França, Grécia, Malta, Itália, Eslovénia e Espanha – que fazem parte da bacia mediterrânica, do euro e do espaço Schengen (à exceção do Chipre). Este grupo foi constituído para promover a cooperação em questões de interesse comum, como a migração, alterações climáticas e estabilidade económica e regional.
As derradeiras palavras pertenceram ao presidente da FCM. Nelson Ferreira falou do «início de uma nova era», identificando o Pacto para o Mediterrâneo como um «impulso para novas conquistas.» No que diz respeito ao futuro dos contabilistas certificados, salientou a «especialização no relato de sustentabilidade» como um passo central para adicionar valor para a profissão.