A maioria das denúncias sobre  eventuais fugas aos impostos feitas pela Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC) ao Ministério Público acaba por ser arquivada por falta de provas ou por prescrever o prazo legal. Em média, a CTOC entrega 10 a 15 denúncias por semana ¿ o que representa entre 520 a 780 queixas anuais ¿ que acabam, na sus maioria, por cair no esquecimento.
Até à data, segundo o presidente da CTOC, Domingues de Azevedo, apenas receberam duas respostas por parte  do organismo público, uma delas a informar que tinha sido arquivado o processo por o contribuinte ter entretanto regularizado as suas dívidas. «Por vezes é mais fácil o Ministério Público não dar qualquer tipo de resposta do que investigar os supostos faltosos», lamenta o responsável.
O processo é simples. A Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas denuncia ao Ministério Público todos os casos que dizem respeito à ausência de retenção na fonte ou a falta de informações sobre os impostos liquidados. A partir daí, o organismo deverá investigar os casos  de eventual fuga fiscal e fazer com que a dívida seja regularizada.
Uma situação, que de acordo com o dirigente da CTOC, nem sempre acontece, devido à passividade do Ministério Público. «Um dos grandes problemas é que  o combate à evasão e à fraude fiscal esbarra muitas vezes  na falta de vontade política», acrescenta o dirigente.
Aliás, para Domingues de Azevedo, as grandes fugas ao fisco não estão nos «grandes esquemas muito bem montados, mas nas pequenas situações que escapam ao controlo da fiscalização e que tudo somado  representa muito dinheiro».
Acordo com PJ avança
O combate à fraude e à evasão vai, no entender de Domingues de Azevedo, conhecer melhores dias com a assinatura, daqui a duas semanas, do protocolo entre a CTOC e a Polícia Judiciária. «Este acordo  pretende ser um instrumento forte e eficaz para detectar todas as situações de eventuais fugas fiscais. A ideia é que os técnicos de contas analisem as contribuições fiscais das empresas que possam levantar qualquer tipo de dúvidas quanto à sua veracidade», afirma o presidente da CTOC.
Isto significa que,  a partir daí, as contas das empresas vão começar a ser passadas a «pente fino», isto  depois do acordo ter sofrido uma série de  impasses por parte da PJ. «Compreendo que a Polícia Judiciária não tenha dinheiro para pagar aos técnicos de contas, mas também têm de entender que os técnicos não podem trabalhar de borla», afirma.
As  contas dos clubes de futebol irão ser uns  dos principais alvos  destas acções de fiscalização, uma vez que, para o dirigente, são as entidades que movimentam verbas mais  elevadas. Além disso, as transferências dos jogadores para outros clubes são por vezes pouco transparentes.
Estas investigações não vão ficar por aqui, já que o acordo prevê detectar qualquer eventualidade de fuga  fiscal. «Há muitas situações que vão de certeza necessitar da nossa atenção e intervenção, mas sem dúvida que os clubes de futebol, pelos valores elevados que movimentam e pelas situações menos ortodoxas que se falam, irão merecer uma atenção especial», refere o responsável.
A verdade é que para que este acordo seja assinado, a CTOC foi obrigada a alterar o protocolo inicial, o que passou obrigatoriamente pela mudança do valor dos honorários.
Inicialmente, a Câmara proponha o pagamento consoante o número total  de horas envolvidas ¿ 45 euros por hora se o horário de trabalho for inferior  a 10 horas e 40 euros se for superior a 10 horas -  mas neste momento está previsto que o valor a pagar resultará da negociação entre os técnicos de contas e os departamentos regionais da PJ. Em  caso de não haver acordo, as direcções centrais da Polícia Judiciária serão chamadas a intervir.