Reformar, simplificar e confiar nas ferramentas de apoio à gestão
Conferência de lançamento do projeto ECOntas teve o apoio da Ordem
O lançamento do ECOntas, a nova marca de informação do jornal digital ECO, especializada em fiscalidade, contabilidade e auditoria, foi o mote para a realização da conferência «A política fiscal como agente de transformação da economia», que teve lugar a 25 de junho, no Auditório António Domingues de Azevedo, em Lisboa. O evento, que teve o apoio da OCC, começou com a intervenção do diretor do ECO. António Costa afirmou que o ECOntas, a nona marca do universo ECO, pretende ser «um parceiro junto da comunidade de contabilistas, fiscalistas, auditores e consultores», permitindo «ajudar à tomada de decisão e fonte de acesso à informação por parte dos profissionais.» Por seu turno, Sara do Ó, presidente do conselho de administração da Ó Capital, uma das entidades fundadoras do projeto ECOntas, referiu que «só é possível aumentar a dimensão média do tecido empresarial nacional com mais conhecimento partilhado e contributos comuns.»
«Redundâncias» que travam o desenvolvimento
Na condição de anfitriã, Paulo Franco começou por desejar que o projeto agora lançado oficialmente tenha a abrangência necessária. «A OCC quer ser um parceiro que aporta informação de modo correto, rigoroso e fidedigno», declarou. «No dia a dia, percebemos o quão difícil é transmitir aos empresários esta linguagem contabilística, fiscal e de auditoria e, por isso, acredito, que a iniciativa pode “traduzir” muitos destes chavões», acrescentou. A responsável máxima da Ordem lembrou ainda que só nos primeiros seis meses do ano «foram variadíssimas e significativas as alterações legislativas», umas de legislação interna, outras através da transposição de diretivas. «Só os contabilistas compreendem o que é lidar com as implicações e o enquadramento destas transformações», referiu. Para concluir, a bastonária defendeu uma política fiscal de incentivo à criação de riqueza e valor, e que se prossiga o esforço de simplificação fiscal e administrativa, nomeadamente ao nível das «enormes redundâncias», que «continuam a ser um entrave ao desenvolvimento.»
O Estado a braços com um «anacronismo técnico»
«O papel da contabilidade financeira no crescimento económico» foi o tema proposto para o primeiro painel da conferência. Mas a conversa acabou por derivar, em grande medida, para temas fiscais. Rogério Fernandes Ferreira defendeu o reforço da descida do IRC, mais no topo, do que na taxa geral, a redução dos custos de contexto e o incrementar da previsibilidade e da estabilidade na Lei Geral Tributária. O ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e partner manager da RFF Laywers mostrou-se ainda partidário de uma política fiscal e salarial para que as empresas «ganhem dimensão», de modo a mudar o tecido empresarial português. Uma «nova cultura de apoio ao contribuinte», com mais proteção e reforço de garantias, foi outra das dimensões preconizada por Fernandes Ferreira. Por seu turno, Filipa Xavier de Basto, CEO da Your Finance, afirmou que «as empresas com mais apoio para o reporte de gestão são as que mais crescem, que mais confiança demonstram para os stakeholders, que mais inovam e que tomam decisões mais tempestivas.» Carlos Lobo, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, usou o tema «Contabilidade pública e a reinvenção do Estado» para fortalecer o seu argumento: «No Estado estamos com um modelo de contabilidade de caixa que é um anacronismo técnico. Este modelo não é apenas tecnicamente obsoleto, mas economicamente suicida. Digo isto desde a entrada em vigor do SNC, em 2009. Andamos a gerir como uma (má) mercearia todos os organismos públicos.» O fiscalista não terminou a sua intervenção sem reforçar a necessidade de alterar os modelos de gestão pública. E partilhou uma sugestão: «Se temos contabilistas, revisores oficiais de contas e economistas, talvez fosse bom a junção de todas as profissões na tentativa de criação de um organismo mais forte, com capacidade para pressionar o governo nesta transição.»
«Gerir por intuição? A probabilidade de erro e desastre é enorme»
«A contabilidade como ferramenta de gestão», o tema escolhido para o segundo painel. Na troca de argumentos, António Mendonça afirmou que 94 ou 95 por cento das empresas são micro ou pequenas, residindo aqui o busílis da questão, até porque, «há muitas micro empresas que não têm razão de existir.» Para o bastonário da Ordem dos Economistas, a administração pública deve ser um interface entre a sociedade, o mundo económico-empresarial e o governo, no sentido da melhoria do ambiente económico. Defendendo que a «reforma da administração pública deve ser vista como um ecossistema», o economista acrescentou que a estrutura económica e empresarial do país tem de mudar rapidamente», tendo o relatório Draghi sido um bom alerta.
Por seu turno, Clara Moura Guedes, foi confrontada com a questão sobre como é que um empresário reage a um mundo em permanente turbulência. A CEO do Monte do Pasto referiu que «o ambiente que se tornou normal é o de viver na imprevisibilidade e instabilidade» sendo, neste contexto, necessário recorrer às melhores ferramentas para lidar com este contexto desafiante. A empresária sublinhou, contudo, que mesmo num contexto exigente, não é possível abdicar de decisões estratégicas e operacionais provenientes da informação contabilística e financeira. «Para mim, gerir por intuição é algo que não existe. É preferível o casino. A probabilidade de erro e desastre é enorme», disse.
A contabilidade, «uma linguagem de verdade»
A inteligência artificial (IA) é um item sempre presente em qualquer conferência nesta e noutras áreas. E neste evento que teve o apoio da OCC, também não ficou à margem. Valter Pinho, general manager SAF-T na Sovos, defendeu estar em curso «uma mudança no mindset do contabilista.» O orador revelou ainda que o ensino da contabilidade nos dias de hoje está intimamente ligado com o aproveitamento do potencial de diversas valências tecnológicas. O engenheiro informático dirigiu ainda uma mensagem para o governo simplificar o processo de reporte fiscal. Por seu turno, Hugo Salgueiro, CEO da DFK, afirmou que «a contabilidade é uma linguagem de verdade e não é a IA que pode mudar isso. O contabilista deve ser o primeiro revisor do relato financeiro e acredito que a introdução destas novas tecnologias vai permitir dar mais tempo aos profissionais.
«Simplificar, simplificar, simplificar»
A sessão de encerramento esteve a cargo da secretária de Estado dos Assuntos Fiscais. Após ter agradecido à bastonária «o trabalho contínuo em prol da profissão e modernização do setor», Cláudia Reis Duarte referiu que «a contabilidade é muitíssimo mais do que uma função técnica.» A governante acrescentou que «só com uma informação rigorosa e especializada podemos continuar a transformar a política fiscal. O sistema fiscal vai muito para além da arrecadação de receita, devendo promover a coesão, a inovação e o desenvolvimento.» Assentando a sua intervenção na tónica «simplificar, simplificar, simplificar», Cláudia Reis Duarte esclareceu que «a agenda de simplificação fiscal não é um pacote fechado de medidas, é um processo.» Para já, entraram em vigor duas dezenas de medidas e até final do ano outras verão a luz do dia. Simplificar é também o objetivo para o sistema fiscal, «tornando-o mais previsível.» Segundo a SEAF, tal «só será possível com diálogo entre os decisores, a Autoridade Tributária e os profissionais no terreno», onde se incluem os contabilistas certificados.
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